quinta-feira, 26 de julho de 2012

A mulher do coronel #Ensaio

"Moça solteira é para esperar marido, sabendo coser, tocar piano e dirigir a cozinha."

   Na ilhéus cravo e canela (e cacau) de 1925 o progresso coexistia com os costumes antigos da cidadezinha baiana. Sob a guarda dos coronéis, estavam a política e  as mulheres. Estas últimas tinham pouca partcipação social, aparecendo apenas em compromissos religiosos como as festas da igreja  e missas para cumprir a imagem de mulher do coronel. Na sociedade patriarcal (ilheense), tudo girava em torno do senhor de terras, o pai de familía, o "marido" justo.
   Jorge Amado retrata em Gabriela: cravo e canela, o tratamento dado as mulheres em tempos de coronelismo. Totalmente dependentes dos homens deveriam obedecê-lo e respeitá-los antes de tudo, mesmo sabendo de suas relações extraconjugais nas noites do bataclan. Amantes assim como esposas e as suas plantações de cacau eram propriedades particulares e intransferiveis!! Traição era inadimissivel! Manchava a honra do marido, e honra de homem enganado só com sangue poderia ser lavada. Esse sim erao cabra macho! Depois da honra lavada, os julgamentos sempre absolviam, o marido ultrajado. Era justo o acerto de contas!
   A lei inexorável, valia também para as futuras gerações. As filhas eram introduzidas "no colégio de freiras ,no círculo de bordar, na cozinha a cozinhar, na arrumação a arrumar e na missa a confessar. O marido no perfume, nas roupas e até no dormir a mandar."  Pobre Malvina!
Porém resquicios do tratamento de submissão ainda existem. Na decada de 1980 os homens (não mais coronéis) ainda podiam lavar sua honra com o sangue, matar por honra e "punidos" com absolvição e em casos "extremos" com penas simbólicas. Por medo, e pelo direito legitimo do senhor da casa matar as denúncias eram mal registradas nas delegacias.
   Com o progresso do movimento feminista, após a gota d´água foi aprovada uma lei que coibisse as agressões domésticas - a lei Maria da Penha. Essa e outras conquistas provocaram a ira machista, como já dizia Doutor Mauricio (o coronel); "Tudo isso é resultado da degeneração do costumes que começa a imperar em nossa terra."  Uma conversa resume-se a socos, pontapés e a tiros que figuram em números estatisticos de violência. Apesar das denúncias aumentarem, segundo dados nem sempre providências são tomadas.
  A figura do coronel ficou na história, porém os costumes patriarcais advindo não só da Ilhéus representada no romance de Amado, como de todo o histórico de submissão feminino, infelizmente ainda se fazem presentes na sociedade, que todos os dias assiste e é protagonista a inovações em todos os sentidos (tecnológicos, midiáticos, etc..)  inclusive no tratamento bruto com o próximo.

"Essa terra d Ilhéus, sua terra está longe de ser civilizada."




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